Obrigada.
Para entendermos a preocupação com o feminino, encontramos na época após o Concílio de Trento (1545-1563) o crescimento com a preocupação da honra feminina, bem como o incentivo ao erguimento de recolhimentos femininos. Com a criação da Santa Casa durante o período moderno, precisamente em 1498 na cidade de Lisboa (Portugal), a irmandade como esteve diretamente ligada a religião Católica, se encarregou de diversas atividades caritativas, e dentre as atividades, a proteção com as mulheres. Com a expansão da Misericórdia, esta chega a São Luís do Maranhão, no qual continua com as mesmas práticas e noções caritativas e a proteção feminina, principalmente entre as mulheres pobres e órfãs, que foram consideradas vulneráveis devido a dois fatores tidos tanto em Portugal quanto no Brasil: 1. Os perigos da mulher em trabalhar em locais poucos confiáveis, algo que poderia comprometer sua virgindade e 2. Os perigos da prostituição, notadamente entre aquelas moças que se encontravam em situação de pobreza.
Dessa forma, para assegurar que essas moças sigam o que foi a tempos imposto, isto é, o ideal de mulher casada, o dote se constituiu como um fim que justificou os meios na medida que oferecer um dote, principalmente em dinheiro, tornaria a jovem mais atrativa ao sexo masculino. Ao dotar moças, a Misericórdia assegurava o destino para o feminino o seu caminho ideal, seguindo os pensamentos da época.
Curso
História Licenciatura
Você é o Orientador desta pesquisa?
Não
Igor Santos Carneiro
2 anos atrás
Parabéns pelo trabalho!
Gostaria de saber quais foram as principais dificuldades ao lidar com as fontes documentais sobre dote e Santa Casa de Misericórdia?
Obrigada!
Nota-se que na historiografia portuguesa, há rica informações sobre a Santa Casa de Misericórdia e prática dotal, com publicações significativas de livros e artigos, bem como farta documentação em acervos.
No Brasil, os estudos sobre que analisaram a prática dotal na sociedade brasileira surgiram a partir da década de 1970, como resultado de novas linhas de pesquisa acerca da família, sistema de casamentos e regime de transmissão de bens durante o período colonial e século XIX. A possibilidade no estudo dessas novas temáticas foram possíveis graças às análises de documentações pouco exploradas, como os testamentos, inventários, livros de batismo, óbitos e casamentos.
No que concerne aos estudos sobre a prática dotal na Santa Casa de Misericórdia, temos o trabalho pioneiro Laima Mesgravis sobre a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (1976). No Maranhão, o estudo é pouco pesquisado e as dificuldades nas fontes torna um trabalho desafiador, notadamente durante a pandemia ocasionada pelo vírus COVID-19, em que recorri aos acervos digitais, que proporcionou à pesquisa uma significativa quantidade de fontes documentais sobre o dote e Santa Casa, encontrados nos jornais do período Oitocentista, possibilitando o mapeamento de periódicos, o qual encontramos principalmente no jornal Publicador Maranhense significativas informações.
Vale ressaltar que, a documentação sobre a Misericórdia do Maranhão se inicia a partir da década de 1770, pois anterior ao período, houve considerável perda da documentação.
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Não
Iasmin Carvalho F Doroth
2 anos atrás
Sua pesquisa é muito interessante, Ana. Dentre as dificuldades apontadas para o casamento entra órfãs e pobres na Santa Casa, a beleza foi um fato de peso?
Obrigada!
No imaginário da época, amplamente divulgado nos jornais, a beleza exerceu considerável influência e estabeleceu dois dilemas: de um lado a maior chance de casar, caso a mulher carregasse uma beleza exuberante, e do outro, a quantia do dote definiria se valeria o “esforço” em se casar.
No decorrer da pesquisa, encontramos nos jornais diversos fragmentos que apontam para a beleza e dote, estabelecendo o ideal para que a mulher conseguisse contrair o matrimônio, devendo ser bela e dispor de um dote com quantia significativa.
Em Portugal, as Misericórdias também notaram a beleza em favor da dotada, no qual uma das etapas para a dotação foram avaliações físicas nas candidatas ao dote, pois segundo o imaginário, a maior beleza feminina poderia levar a luxúria, algo considerado um pecado diante da Igreja Católica.
Portanto, em São Luís do Maranhão, os mesmos preceitos foram seguidos no tocante a beleza da mulher, tornando-se um dos fatores para a baixa de casamentos durante o século XIX realizados pela Santa Casa de Misericórdia do Maranhão, destinando as dotadas a reclusão na Casa dos Expostos por longos períodos ou sua saída para o trabalho.
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Rayemerson Pedro Silva dos Santos
2 anos atrás
Parabéns pelo trabalho desenvolvido!
Qual era o destino das moças acolhidas pela Santa Casa de Misericórdia que não conseguissem companheiros para concretizar os laços matrimoniais?
Na Santa Casa de Misericórdia do Maranhão, aquelas que não conseguissem se casar foram designadas a costurar nos hospitais da irmandade, uma vez que a educação às moças baseava-se no ensino de trabalhos domésticos, como a costura. O trabalho exclusivamente nos hospitais considera-se, nas análises, uma prática anterior a 1860. Após a década citada, a Misericórdia considerou essas jovens um acréscimo as despesas da irmandade, alegando dificuldades financeiras na proteção do feminino. Dessa forma, com a comissão estabelecida para decidir o futuro destas moças, elas tiveram dois destinos: aquelas com parentes vivos deveriam voltar para sua tutela e as moças que não estivessem pais ou responsáveis foram destinadas a trabalharem nas ditas “casas de família”.
O contraste da medida tomada pela Mesa, encarregada de decisões administrativas, refletiu com a crise maranhense na segunda metade do século XIX, abatendo a Misericórdia devido a diminuição nas doações e legados, algo que comprometeu a Casa dos Expostos e demais estabelecimentos da Instituição.
É digno de nota que, em Portugal a prática dotal realizada pelas Santas Casas ocorria locais como a igreja, o qual as moças realizavam sua candidatura e aguardavam o pretendente para se casarem, pois ao longo da história das Misericórdias, não foram todas que ergueram recolhimentos e casas para resguardar o feminino. Caso não conseguissem se casar nestes locais, as mulheres estiveram a mercê da própria sorte.
Em São Luís, a Misericórdia prestou auxílio às jovens com o acolhimento e proteção, destinando ao sexo feminino, notadamente na segunda metade do século XIX, alternativas que resultaram na mão de obra feminina e a possibilidade do casamento.
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Last edited 2 anos atrás by Ana Caroline Silva Caldas
Veronica Lima de Amorim Matos
2 anos atrás
Parabéns, Ana. Excelente trabalho.
Gostaria de saber se discursos propagados nos jornais em relação as moças, demarcavam estereótipos sobre elas? Se sim, quais?
Nos jornais analisados, ao longo do século XIX os fragmentos demarcavam tipos de “padrões” às mulheres, a saber, uma mulher bela que detivesse determinadas características, como cabelos lisos e longos, voz lírica, corpo que chamasse a atenção, ao contrário das mulheres “modestas”, consideradas magras demais ou que não chamavam a atenção por onde passavam.
Encontramos vários fragmentos com histórias sobre a beleza feminina no jornal Publicador Maranhense, disponibilizado na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional Digital (BNDigital), que estabelecem a beleza como fator de peso, principalmente para o casamento, devendo a mulher bela também ter um significativo dote, elevando seu status para uma “mulher ideal” para o sexo oposto.
Portanto, são estabelecidos estereótipos entre as mulheres acerca do corpo, que garantiriam à elas delimitações e obstáculos na esfera matrimonial, sendo uma das hipóteses para a baixa de casamento entre as moças expostas.
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Não
Antonio Michael Alves de Sousa
2 anos atrás
Boa tarde, ótimo trabalho. Parabéns pela pesquisa.
Parabéns pela pesquisa. Qual a importância para a sociedade com a dotação de moças realizadas pela Santa Casa de Misericórdia?
Obrigada.
Para entendermos a preocupação com o feminino, encontramos na época após o Concílio de Trento (1545-1563) o crescimento com a preocupação da honra feminina, bem como o incentivo ao erguimento de recolhimentos femininos. Com a criação da Santa Casa durante o período moderno, precisamente em 1498 na cidade de Lisboa (Portugal), a irmandade como esteve diretamente ligada a religião Católica, se encarregou de diversas atividades caritativas, e dentre as atividades, a proteção com as mulheres. Com a expansão da Misericórdia, esta chega a São Luís do Maranhão, no qual continua com as mesmas práticas e noções caritativas e a proteção feminina, principalmente entre as mulheres pobres e órfãs, que foram consideradas vulneráveis devido a dois fatores tidos tanto em Portugal quanto no Brasil: 1. Os perigos da mulher em trabalhar em locais poucos confiáveis, algo que poderia comprometer sua virgindade e 2. Os perigos da prostituição, notadamente entre aquelas moças que se encontravam em situação de pobreza.
Dessa forma, para assegurar que essas moças sigam o que foi a tempos imposto, isto é, o ideal de mulher casada, o dote se constituiu como um fim que justificou os meios na medida que oferecer um dote, principalmente em dinheiro, tornaria a jovem mais atrativa ao sexo masculino. Ao dotar moças, a Misericórdia assegurava o destino para o feminino o seu caminho ideal, seguindo os pensamentos da época.
Parabéns pelo trabalho!
Gostaria de saber quais foram as principais dificuldades ao lidar com as fontes documentais sobre dote e Santa Casa de Misericórdia?
Obrigada!
Nota-se que na historiografia portuguesa, há rica informações sobre a Santa Casa de Misericórdia e prática dotal, com publicações significativas de livros e artigos, bem como farta documentação em acervos.
No Brasil, os estudos sobre que analisaram a prática dotal na sociedade brasileira surgiram a partir da década de 1970, como resultado de novas linhas de pesquisa acerca da família, sistema de casamentos e regime de transmissão de bens durante o período colonial e século XIX. A possibilidade no estudo dessas novas temáticas foram possíveis graças às análises de documentações pouco exploradas, como os testamentos, inventários, livros de batismo, óbitos e casamentos.
No que concerne aos estudos sobre a prática dotal na Santa Casa de Misericórdia, temos o trabalho pioneiro Laima Mesgravis sobre a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (1976). No Maranhão, o estudo é pouco pesquisado e as dificuldades nas fontes torna um trabalho desafiador, notadamente durante a pandemia ocasionada pelo vírus COVID-19, em que recorri aos acervos digitais, que proporcionou à pesquisa uma significativa quantidade de fontes documentais sobre o dote e Santa Casa, encontrados nos jornais do período Oitocentista, possibilitando o mapeamento de periódicos, o qual encontramos principalmente no jornal Publicador Maranhense significativas informações.
Vale ressaltar que, a documentação sobre a Misericórdia do Maranhão se inicia a partir da década de 1770, pois anterior ao período, houve considerável perda da documentação.
Sua pesquisa é muito interessante, Ana. Dentre as dificuldades apontadas para o casamento entra órfãs e pobres na Santa Casa, a beleza foi um fato de peso?
Obrigada!
No imaginário da época, amplamente divulgado nos jornais, a beleza exerceu considerável influência e estabeleceu dois dilemas: de um lado a maior chance de casar, caso a mulher carregasse uma beleza exuberante, e do outro, a quantia do dote definiria se valeria o “esforço” em se casar.
No decorrer da pesquisa, encontramos nos jornais diversos fragmentos que apontam para a beleza e dote, estabelecendo o ideal para que a mulher conseguisse contrair o matrimônio, devendo ser bela e dispor de um dote com quantia significativa.
Em Portugal, as Misericórdias também notaram a beleza em favor da dotada, no qual uma das etapas para a dotação foram avaliações físicas nas candidatas ao dote, pois segundo o imaginário, a maior beleza feminina poderia levar a luxúria, algo considerado um pecado diante da Igreja Católica.
Portanto, em São Luís do Maranhão, os mesmos preceitos foram seguidos no tocante a beleza da mulher, tornando-se um dos fatores para a baixa de casamentos durante o século XIX realizados pela Santa Casa de Misericórdia do Maranhão, destinando as dotadas a reclusão na Casa dos Expostos por longos períodos ou sua saída para o trabalho.
Parabéns pelo trabalho desenvolvido!
Qual era o destino das moças acolhidas pela Santa Casa de Misericórdia que não conseguissem companheiros para concretizar os laços matrimoniais?
Obrigada!
Na Santa Casa de Misericórdia do Maranhão, aquelas que não conseguissem se casar foram designadas a costurar nos hospitais da irmandade, uma vez que a educação às moças baseava-se no ensino de trabalhos domésticos, como a costura. O trabalho exclusivamente nos hospitais considera-se, nas análises, uma prática anterior a 1860. Após a década citada, a Misericórdia considerou essas jovens um acréscimo as despesas da irmandade, alegando dificuldades financeiras na proteção do feminino. Dessa forma, com a comissão estabelecida para decidir o futuro destas moças, elas tiveram dois destinos: aquelas com parentes vivos deveriam voltar para sua tutela e as moças que não estivessem pais ou responsáveis foram destinadas a trabalharem nas ditas “casas de família”.
O contraste da medida tomada pela Mesa, encarregada de decisões administrativas, refletiu com a crise maranhense na segunda metade do século XIX, abatendo a Misericórdia devido a diminuição nas doações e legados, algo que comprometeu a Casa dos Expostos e demais estabelecimentos da Instituição.
É digno de nota que, em Portugal a prática dotal realizada pelas Santas Casas ocorria locais como a igreja, o qual as moças realizavam sua candidatura e aguardavam o pretendente para se casarem, pois ao longo da história das Misericórdias, não foram todas que ergueram recolhimentos e casas para resguardar o feminino. Caso não conseguissem se casar nestes locais, as mulheres estiveram a mercê da própria sorte.
Em São Luís, a Misericórdia prestou auxílio às jovens com o acolhimento e proteção, destinando ao sexo feminino, notadamente na segunda metade do século XIX, alternativas que resultaram na mão de obra feminina e a possibilidade do casamento.
Parabéns, Ana. Excelente trabalho.
Gostaria de saber se discursos propagados nos jornais em relação as moças, demarcavam estereótipos sobre elas? Se sim, quais?
Obrigada.
Nos jornais analisados, ao longo do século XIX os fragmentos demarcavam tipos de “padrões” às mulheres, a saber, uma mulher bela que detivesse determinadas características, como cabelos lisos e longos, voz lírica, corpo que chamasse a atenção, ao contrário das mulheres “modestas”, consideradas magras demais ou que não chamavam a atenção por onde passavam.
Encontramos vários fragmentos com histórias sobre a beleza feminina no jornal Publicador Maranhense, disponibilizado na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional Digital (BNDigital), que estabelecem a beleza como fator de peso, principalmente para o casamento, devendo a mulher bela também ter um significativo dote, elevando seu status para uma “mulher ideal” para o sexo oposto.
Portanto, são estabelecidos estereótipos entre as mulheres acerca do corpo, que garantiriam à elas delimitações e obstáculos na esfera matrimonial, sendo uma das hipóteses para a baixa de casamento entre as moças expostas.
Boa tarde, ótimo trabalho. Parabéns pela pesquisa.
Boa noite. Obrigada!