Apesar da situação de vulnerabilidade a qual vivenciam os warao em decorrência dessa mobilidade constante e de estarem fora de seus territórios não condiciona a perda de conservação de sua identidade cultural e étnica, mas em alguma medida esse contato cultural sofre algum impacto, a exemplo da alimentação, pois alguns itens típicos não são encontrados no Brasil. Um trabalho apresentado na 31ª Reunião Brasileira de Antropologia em 2018 destacou análises de uma oficina de trabalho realizada na Universidade Federal do Amazonas a qual estavam presentes líderes de grupos familiares dos warao onde os pesquisadores constataram que “apesar das mudanças ensejadas pela migração, a cultura Warao permanece a mesma. Em outras palavras, muda-se, para permanecer o mesmo, pois aspectos fundantes desse modo de vida, ou “ethos” cultural (GEERTZ, 1978 apud SANTOS; ORTOLAN; SILVA, 2018, p.5), permanecem, como a língua, o artesanato, ainda que já não tenham o acesso à palma do buriti no Brasil, o canto, danças, crenças, relações de gênero etc”. Sabemos que um indígena não deixa de assim o ser porque está fora de seu território. Outrossim, o fato desses indígenas manterem uma continuidade por meio do casamento (em regra) entre os próprios warao demonstra essa persistência étnica.
REFERÊNCIAS:
SANTOS, Sandro Martins de Almeida; ORTOLAN, Maria Helena; SILVA, Sidney Antônio da. “Índios imigrantes” ou “imigrantes índios”? Os Warao no Brasil e a necessidade de políticas migratórias indigenistas. 31ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 09 e 12 de dezembro de 2018, Brasília/DF.
Curso
Direito
Bráulio Loureiro
2 anos atrás
Como o trabalho analisa as relações/parcerias entre estado do Maranhão e entidades da sociedade civil no trato com a questão dos refugiados venezuelanos?
As parcerias com entidades da sociedade civil são de extrema importância, inclusive cidades do sudeste sediam entidades com ampla atuação na defesa dos direitos de migrantes e refugiados, a exemplo das ONG’s Conectas Direitos Humanos, IKMR, COMPASSIVA (muito embora atuem em algumas causas específicas em outros estados), além de entidades religiosas como a Cáritas Arquidiocesana que possui centro de acolhida para refugiados e atuação nacional. Entretanto, no Maranhão não há ONG’s que especificamente tratem da temática dos refugiados, até porque essa é uma experiência recente. No mais, entidades religiosas se envolveram para acolher pessoas na condição de refugiadas quando da chegada dos warao em 2019. Em 2020 a Prefeitura de São Luís em parceria com o Centro de Cultura Negra do Maranhão inauguraram um Centro de Referência para Atendimento de Imigrantes e Refugiados no bairro do Monte Castelo. Entretanto, segundo informações, não prosperou em suas atividades. Atualmente as ações são realizadas pela SEDIHPOP em casos pontuais e emergenciais. Foi possível depreender por meio da pesquisa que há esforços tanto do estado e dos municípios que detectaram a presença dos warao em promover alguma forma de atendimento, mas essa relação com agentes estatais sofreu/sofre algumas tensões em virtude tanto da cultura dos indígenas quanto do fato de experiências negativas vivenciadas em seu país de origem. Outrossim, a prática da coleta (mendicância) que já virou um costume para eles, além da mobilidade constante dificulta uma atuação incisiva para promoção de políticas públicas. Com efeito, vale salientar a necessidade de construção de um Plano Estadual de Políticas para Migrantes e Refugiados de forma a subsidiar as tratativas face aos atendimentos em diversos municípios e de políticas públicas eficazes.
Curso
Direito
Erika Fernanda Paiva
2 anos atrás
Primeiramente parabéns pela pesquisa. E gostaria de saber qual foi a parte mais difícil da pesquisa que você achou ?
Muito obrigada, Erika. A parte mais difícil da pesquisa foi adequá-la aos moldes da pandemia, devido as restrições. Nesse sentido, foi inviável fazer visitas aos warao que era a proposta inicial do nosso estudo, e ter uma perspectiva de análise a partir de suas falas. A pesquisa teve que assumir um caráter mais bibliográfico e documental, e a análise de campo ficou comprometida. A fala dos agentes do estado sempre será aquela de que o melhor está sendo feito, quando sabemos que até mesmo a nível nacional não há interesse na pauta das migrações e refúgio.
Apesar do fluxo migratório, como podemos explicar a persistência da identidade étnica enquanto indígenas Warao?
Apesar da situação de vulnerabilidade a qual vivenciam os warao em decorrência dessa mobilidade constante e de estarem fora de seus territórios não condiciona a perda de conservação de sua identidade cultural e étnica, mas em alguma medida esse contato cultural sofre algum impacto, a exemplo da alimentação, pois alguns itens típicos não são encontrados no Brasil. Um trabalho apresentado na 31ª Reunião Brasileira de Antropologia em 2018 destacou análises de uma oficina de trabalho realizada na Universidade Federal do Amazonas a qual estavam presentes líderes de grupos familiares dos warao onde os pesquisadores constataram que “apesar das mudanças ensejadas pela migração, a cultura Warao permanece a mesma. Em outras palavras, muda-se, para permanecer o mesmo, pois aspectos fundantes desse modo de vida, ou “ethos” cultural (GEERTZ, 1978 apud SANTOS; ORTOLAN; SILVA, 2018, p.5), permanecem, como a língua, o artesanato, ainda que já não tenham o acesso à palma do buriti no Brasil, o canto, danças, crenças, relações de gênero etc”. Sabemos que um indígena não deixa de assim o ser porque está fora de seu território. Outrossim, o fato desses indígenas manterem uma continuidade por meio do casamento (em regra) entre os próprios warao demonstra essa persistência étnica.
REFERÊNCIAS:
SANTOS, Sandro Martins de Almeida; ORTOLAN, Maria Helena; SILVA, Sidney Antônio da. “Índios imigrantes” ou “imigrantes índios”? Os Warao no Brasil e a necessidade de políticas migratórias indigenistas. 31ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 09 e 12 de dezembro de 2018, Brasília/DF.
Como o trabalho analisa as relações/parcerias entre estado do Maranhão e entidades da sociedade civil no trato com a questão dos refugiados venezuelanos?
As parcerias com entidades da sociedade civil são de extrema importância, inclusive cidades do sudeste sediam entidades com ampla atuação na defesa dos direitos de migrantes e refugiados, a exemplo das ONG’s Conectas Direitos Humanos, IKMR, COMPASSIVA (muito embora atuem em algumas causas específicas em outros estados), além de entidades religiosas como a Cáritas Arquidiocesana que possui centro de acolhida para refugiados e atuação nacional. Entretanto, no Maranhão não há ONG’s que especificamente tratem da temática dos refugiados, até porque essa é uma experiência recente. No mais, entidades religiosas se envolveram para acolher pessoas na condição de refugiadas quando da chegada dos warao em 2019. Em 2020 a Prefeitura de São Luís em parceria com o Centro de Cultura Negra do Maranhão inauguraram um Centro de Referência para Atendimento de Imigrantes e Refugiados no bairro do Monte Castelo. Entretanto, segundo informações, não prosperou em suas atividades. Atualmente as ações são realizadas pela SEDIHPOP em casos pontuais e emergenciais. Foi possível depreender por meio da pesquisa que há esforços tanto do estado e dos municípios que detectaram a presença dos warao em promover alguma forma de atendimento, mas essa relação com agentes estatais sofreu/sofre algumas tensões em virtude tanto da cultura dos indígenas quanto do fato de experiências negativas vivenciadas em seu país de origem. Outrossim, a prática da coleta (mendicância) que já virou um costume para eles, além da mobilidade constante dificulta uma atuação incisiva para promoção de políticas públicas. Com efeito, vale salientar a necessidade de construção de um Plano Estadual de Políticas para Migrantes e Refugiados de forma a subsidiar as tratativas face aos atendimentos em diversos municípios e de políticas públicas eficazes.
Primeiramente parabéns pela pesquisa. E gostaria de saber qual foi a parte mais difícil da pesquisa que você achou ?
Muito obrigada, Erika. A parte mais difícil da pesquisa foi adequá-la aos moldes da pandemia, devido as restrições. Nesse sentido, foi inviável fazer visitas aos warao que era a proposta inicial do nosso estudo, e ter uma perspectiva de análise a partir de suas falas. A pesquisa teve que assumir um caráter mais bibliográfico e documental, e a análise de campo ficou comprometida. A fala dos agentes do estado sempre será aquela de que o melhor está sendo feito, quando sabemos que até mesmo a nível nacional não há interesse na pauta das migrações e refúgio.