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Elizabeth Abrantes
Elizabeth Abrantes
2 anos atrás

Olá Maykon, parabenizo pela pesquisa e pelo aporte teórico utilizado da história global e conectada. Gostaria que você comentasse sobre as interações culturais entre o Egito e a Grécia antiga que podem ser observadas na obra de Heródoto.

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História
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Maykon Henrique Cruvel Martins
Maykon Henrique Cruvel Martins
Responder para  Elizabeth Abrantes
2 anos atrás

A obra de Heródoto (contemporâneo à Tucídides, e que envolve o contexto das Guerras Médica entre os séculos VI e V a. C.), Histórias, cap. 2 e 3 (Batizadas pelos alexandrinos de Talia e Euterpe em homenagem às musas gregas), de forte teor etnográfico (estudo de campo sobre a civilização egípcia, com viagem empreendida), faz um apanhado descritivo tanto das práticas cotidianas, quanto geográficas do antigo egito (terreno de aluvião do leito do Nilo). Contudo, o que responde a pergunta em questão, está contido no estudo da práticas religiosas egípcias que ele fizera ao “entrevistar” os sacerdotes em seus templos consagrados às suas divindades, que a muitos ele vira similaridade com as divindades gregas, estabelecendo uma espécie de sincretismo, uma vez que a presença de algumas colônias gregas ulteriores não eram novidade. Assim sendo, muitas comparações eram legitimadas pelas teorias de colonização egípcio-fenício na Grécia, abarcada pelo paradigma do Modelo Antigo (. Tanto os nomes, quanto a estrutura do panteão é dita por Heródoto sendo inspirada na dos egípcios, como o culto prestado ao deus Horús, regente e protetor do egito, associado ao Zeus grego, sobretudo porque este lutara (de acordo com um conto mitológico de ambas as civilizações) contra um monstro chamado Tífon (na versão egípcio seria o Seth, deus do deserto estéril e do caos). A analogia mais interessante contida neste mito, diz respeito à menção na qual os demais deuses gregos, vendo tamanha monstruosidade (Tífon é descrito com proporções colossais), fogem para o Egito, e assumem, num sentido antropozoomórfico, a forma de animais sagrados para os Egipcios (aqui se evidencia umas das diferenças na forma de representação das divindades de cada civilização, tendo o grego aversão às características animalescas). O Hermes, por um exemplo, assume a forma de um Ibis, um pássaro sagrado. Heródoto, também, dá muita atenção à figura do boi, sagrado aos egípcios por personificar Osiris reencarnado, que é colocado como o cerne de diversas ritualisticas sacerdotais, porém, no caso em questão, vê-se uma interação cultural entre as civilizações ao colocar esse dito boi, com o nome de Apis, em comparação ao Epafo grego, fruto do adultério de Zeus e Io, princesa de Argos. Dentre outras coisas, é importante ressaltar que, assim que ao fazer as visitas aos templos egípcios, como os de Mênfis e Heliópolis, e constatar que tais práticas adviram do egito em tempos remotos (associados à suposta colonização), cita um testemunho de um sacerdote de Júpiter tebano (provavelmente o correspondente ao Zeus grego) que diz que os fenícios, em dado tempo, arrebataram de Tebas (a Egípcia, não à grega, que também coloca-se como tendo assimilado no nome em inspiração egípcia) duas mulheres consagradas aos deuses e seus cultos. Uma fora vendida para a Líbia e outra à Grécia. Daí, explica-se o aprendizado das artes dos templos e dos oráculos. Uma outra versão, coloca que duas pombas negras foram enviadas também de Tebas, e chegando uma a Dodona (sacralizada como a mais antiga na arte do Oráculo) falara em voz humana para ali se estabelecer um Oráculo. Como se vê, tanto o mito quanto a filosofia (como enunciado no tema) são usados como meio de interação, até porque muitos estudiosos (filósofos) empreendiam viagens ao egito, com fins de erudição. Heródoto menciona à respeito dos pitagóricos. A própria esfinge contida no mito de Édipo rei faz analogia ao egito e uma possível interação. Enfim, tais interações não são incomuns e muitos menos impossíveis, tendo o mediterrâneo como zona de contato, e o período helenísticos como momento profícuo para tal.

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