Oi, Marlienne, muito obrigado! Agradeço por seu comentário e pergunta. Bom, é preciso sempre levar em consideração que a “escola unitária” de Gramsci se configura como um projeto político-pedagógico vínculado a um projeto político-social mais amplo, a saber, ao objetivo revolucionário de derrocada estrutural do modo de produção capitalista, da dominação e da sociabilidade burguesa. Em seu lugar, atuaria na construção/multiplicação de um intelectual de novo tipo, de uma nova cultura, do estabelecimento de uma nova sociabilidade e da consolidação de uma nova hegemonia. Em suma, trata-se de um projeto político-pedagógico organicamente vinculado ao pleno estabelecimento de uma sociedade socialista, onde superar-se-ia a dominação de classe e a fratura dirigentes/dirigidos. É fundamental situar este ponto, pois, compreendeu Gramsci, assim como os outros mútiplos espaços que compõem o conjunto da vida social, a escola se configura como parte decisiva neste processo. Com especificidades próprias de cada período histórico específico, as escolas e universidades, os modos como são organizadas, os programas escolares, etc, são expressão e expresssam diretamente as lutas e os interesses de classes. Desse modo, acredito que uma pergunta chave seria a seguinte: afinal, por meio de um Estado burguês, e, portanto, organicamente vinculado aos interesses das classes burguesa e de suas frações, é possível implementar ações pensadas no âmbito da “escola unitária”? Penso que não. A “escola unitária” prevê, por exemplo, um ensino “desinteressado”, isto é, não direcionado imediata e diretamente às necessidades momentâneas do modo de produção capitalista, que, sabemos, cada vez mais crescem e alteram-se/são alteradas em rítimo acelerado. Em seu lugar, prevê um ensino que, por meio do resgate do significado ontológico do trabalho (partindo da perspectiva de Marx), conduz os alunos ao desenvolvimento da autonomia intelectual e política, levando-os, desde cedo, a reapropriação do conceito e do fato do trabalho, do pensar e do agir, da teoria e da prática, da ciência e da técnica. A compreensão dos motivos, dos modos e dos meios a partir dos quais a vida social é organizada, trazendo para o centro deste processo a atividade humana, atuaria no sentido da reapropriação do ser humano enquanto construtor e trasnformador da história. Tal concepção educacional confronta, portanto, o que foi separado historicamente pelos indivíduos e pela exploração de classe. A dominação de classe e a manutenção do ordenamento social capitalista se sustenta na separação entre produção e controle da produção, o que exige a separação radical entre o trabalho manual e o trabalho intelectual. Esta separação, por incontáveis meios e de diferentes formas de difusão cultural das classes dirigentes, lança indivíduos dos grupos subalternizados no desconhecimento do processo produtivo, e de si, numa relação mútua que solidifica a dominação político-social. Para Gramsci, tratava-se, assim, de unificar o conhecimento, oferecendo uma formação cultural ampla e geral, que não mais separasse o trabalho manual e o trabalho intelectual, mas que, ao contrário, proporcionasse a posse coletiva da ciência história, preparando satisfatoriamente, por meio do ensino público, gratuito e de qualidade, o conjunto da sociedade tanto para a atividade política diretiva, quanto para a atividade prática produtiva livre associada. Estamos falando, portanto, de uma escola que se configura, absolutamente, como parte orgânica de uma sociedade também “unitária”, sem a qual não pode se constituir. Isto significa que não se trata de uma relação mecânica de simples causalidade, onde uma escola e um programa escolar tornam-se viáveis e efetivos em qualquer condição histórica. Ambos, por si só, não modificam as estruturas das sociedades, e isto se deve ao fato de não se constituírem “elementos independentes” da infinidade dos processos sociais que se manifestam no conjunto da vida social, dos quais são também expressão. Tal proposta não figura, portanto, como uma relação de causa e efeito, mas uma relação de organicidade, cujo princípio vital deve partir de um Estado de transição socialista, e não exclusivamente da “escola unitária” e de seus modos e meios pedagógicos.
Curso
Ciências Sociais
Você é o Orientador desta pesquisa?
Não
Last edited 2 anos atrás by Pedro Leite
EDSON FABIO ARAUJO SOUSA JUNIOR
2 anos atrás
Excelente trabalho, Pedro!
Quais as principais dificuldades que você encontrou no desenvolvimento da sua pesquisa?
Oi Edson, agradeço seu comentário e sua pergunta!!! Acredito que a principal dificuldade tenha sido a pandemia e os seus efeitos em geral. Sabemos que desenvolver pesquisas nesse contexto não foi e não é tarefa fácil, sobretudo levando em consideração as condições brasileiras específicas.
Oi, professora Karina, muito obrigado!!! Saudades de suas aulas. Um abraço.
Curso
Ciências Sociais
Você é o Orientador desta pesquisa?
Não
Allena Yandra Dias Cabral
2 anos atrás
Um grande trabalho! Parabéns, Pedro! Foi uma grande jornada e que bom que pude aprender tantas coisas contigo durante esses anos integrando o mesmo grupo de pesquisa. Parabéns mais uma vez pelo trabalho!
Pedro, parabéns pelo trabalho tão necessário nessa conjuntura. Gramsci sem dúvidas é um ótimo autor para apontar caminhos em momentos de acirramento da luta de classes!
Parabéns, excelente pesquisa! Quais ações educacionais poderiam ser implementadas no sistema de educação em comparativo a visão de Gramsci?
Oi, Marlienne, muito obrigado! Agradeço por seu comentário e pergunta. Bom, é preciso sempre levar em consideração que a “escola unitária” de Gramsci se configura como um projeto político-pedagógico vínculado a um projeto político-social mais amplo, a saber, ao objetivo revolucionário de derrocada estrutural do modo de produção capitalista, da dominação e da sociabilidade burguesa. Em seu lugar, atuaria na construção/multiplicação de um intelectual de novo tipo, de uma nova cultura, do estabelecimento de uma nova sociabilidade e da consolidação de uma nova hegemonia. Em suma, trata-se de um projeto político-pedagógico organicamente vinculado ao pleno estabelecimento de uma sociedade socialista, onde superar-se-ia a dominação de classe e a fratura dirigentes/dirigidos. É fundamental situar este ponto, pois, compreendeu Gramsci, assim como os outros mútiplos espaços que compõem o conjunto da vida social, a escola se configura como parte decisiva neste processo. Com especificidades próprias de cada período histórico específico, as escolas e universidades, os modos como são organizadas, os programas escolares, etc, são expressão e expresssam diretamente as lutas e os interesses de classes. Desse modo, acredito que uma pergunta chave seria a seguinte: afinal, por meio de um Estado burguês, e, portanto, organicamente vinculado aos interesses das classes burguesa e de suas frações, é possível implementar ações pensadas no âmbito da “escola unitária”? Penso que não. A “escola unitária” prevê, por exemplo, um ensino “desinteressado”, isto é, não direcionado imediata e diretamente às necessidades momentâneas do modo de produção capitalista, que, sabemos, cada vez mais crescem e alteram-se/são alteradas em rítimo acelerado. Em seu lugar, prevê um ensino que, por meio do resgate do significado ontológico do trabalho (partindo da perspectiva de Marx), conduz os alunos ao desenvolvimento da autonomia intelectual e política, levando-os, desde cedo, a reapropriação do conceito e do fato do trabalho, do pensar e do agir, da teoria e da prática, da ciência e da técnica. A compreensão dos motivos, dos modos e dos meios a partir dos quais a vida social é organizada, trazendo para o centro deste processo a atividade humana, atuaria no sentido da reapropriação do ser humano enquanto construtor e trasnformador da história. Tal concepção educacional confronta, portanto, o que foi separado historicamente pelos indivíduos e pela exploração de classe. A dominação de classe e a manutenção do ordenamento social capitalista se sustenta na separação entre produção e controle da produção, o que exige a separação radical entre o trabalho manual e o trabalho intelectual. Esta separação, por incontáveis meios e de diferentes formas de difusão cultural das classes dirigentes, lança indivíduos dos grupos subalternizados no desconhecimento do processo produtivo, e de si, numa relação mútua que solidifica a dominação político-social. Para Gramsci, tratava-se, assim, de unificar o conhecimento, oferecendo uma formação cultural ampla e geral, que não mais separasse o trabalho manual e o trabalho intelectual, mas que, ao contrário, proporcionasse a posse coletiva da ciência história, preparando satisfatoriamente, por meio do ensino público, gratuito e de qualidade, o conjunto da sociedade tanto para a atividade política diretiva, quanto para a atividade prática produtiva livre associada. Estamos falando, portanto, de uma escola que se configura, absolutamente, como parte orgânica de uma sociedade também “unitária”, sem a qual não pode se constituir. Isto significa que não se trata de uma relação mecânica de simples causalidade, onde uma escola e um programa escolar tornam-se viáveis e efetivos em qualquer condição histórica. Ambos, por si só, não modificam as estruturas das sociedades, e isto se deve ao fato de não se constituírem “elementos independentes” da infinidade dos processos sociais que se manifestam no conjunto da vida social, dos quais são também expressão. Tal proposta não figura, portanto, como uma relação de causa e efeito, mas uma relação de organicidade, cujo princípio vital deve partir de um Estado de transição socialista, e não exclusivamente da “escola unitária” e de seus modos e meios pedagógicos.
Excelente trabalho, Pedro!
Quais as principais dificuldades que você encontrou no desenvolvimento da sua pesquisa?
Oi Edson, agradeço seu comentário e sua pergunta!!! Acredito que a principal dificuldade tenha sido a pandemia e os seus efeitos em geral. Sabemos que desenvolver pesquisas nesse contexto não foi e não é tarefa fácil, sobretudo levando em consideração as condições brasileiras específicas.
Que pesquisa formidável, Pedro. Parabéns!
Oi, professora Karina, muito obrigado!!! Saudades de suas aulas. Um abraço.
Um grande trabalho! Parabéns, Pedro! Foi uma grande jornada e que bom que pude aprender tantas coisas contigo durante esses anos integrando o mesmo grupo de pesquisa. Parabéns mais uma vez pelo trabalho!
Oi Allena, muito obrigado!!! Me sinto igualmente grato e feliz!
Excelente pesquisa Pedro! Parabéns pelo seu trabalho!
Oi, Bruna. Muito obrigado!!
Parabéns pelo trabalho, Pedro.
Obrigado, professor!!!
Pedro, parabéns pelo trabalho tão necessário nessa conjuntura. Gramsci sem dúvidas é um ótimo autor para apontar caminhos em momentos de acirramento da luta de classes!
Certamente, Fernanda! Muito obrigado! Um abraço.