Parabéns, Umaitan, pela belíssima pesquisa realizada. Gostaria que o amigo fizesse um esclarecimento mais aprofundado sobre essas categorias da Lógica da filosofia de Éric Weil: Ação, Obra, Deus.
Boa noite, companheiro! Acredito que não era tanto meu objetivo oferecer um esclarecimento aprofundado das categorias. Talvez o que não fique claro no resumo é o porquê de serem tais e tais categorias. Mas acho que uma leitura do relatório e de outras leituras de referência, que posso passar, ajudem na compreensão – minha, inclusive, pois não esgotei a análise nem a compreensão.
Mas, brevemente, de um lado, o que explica a escolha da categoria Deus no caso dos terrorismos é o fato de que, “de todas as formas simbólicas tradicionais, a religião será aquela que formalmente mais se adequará a induzir a confusão entre o sagrado transcendente […] e o sagrado comunitário que subjaz aos processos históricos” (BERNARDO, 2016, p. 136). De outro lado, também explica o fato de aquele que Bernardo chama de ideólogo inteligente ter se “apercebido de que, apesar de todos os esforços da Ação, ou talvez, por causa da insuficiência e do caráter paradoxal de tais iniciativas, a ideia de um mito totalitário destinado a impor um regime de violência total, em nome de um deus guerreiro, ainda podia ter o seu cabimento” (BERNARDO, 2016, p. 136).
No caso da Ação, há um conjunto de relações que são explicitadas no relatório e que, acho, podem esclarecer o camarada. Se, ainda assim, tiver questionamentos, podemos ir conversando.
Abraços!
Curso
Filosofia
Você é o Orientador desta pesquisa?
Não
Você é membro do Comitê de Avaliação?
Externo
Leonardo Ruivo
2 anos atrás
Oi Umaitan, parabéns pela sua pesquisa. Gostaria que você explicasse a diferença entre as duas formas de terrorismo (oportunista e totalitário) que você citou mas não desenvolveu. Em segundo lugar, minha questão é sobre as medidas de controle democrático do Estado para reduzir a violência no mundo político. Fico me perguntando em que medida os critérios citados (a-c, mas especialmente o b) seriam efetivos contra as fake news. Pois poderíamos dizer que adeptos da terra plana, anti-vacinas ou qualquer teoria da conspiração similar têm (i) acesso às fontes de informação, de conhecimento e de ciência, (ii) tais fontes são independentes das do Estado (ou seja, satisfaz os critérios de b), mas a opinião é errônea, falsa e/ou formada de maneira precária. Fico com a impressão de que sem tais critérios de verdade fica difícil retirar as fake news do cenário democrático e, portanto, ficamos à mercê da produção de violência no mundo político.
Boa noite, camarada! Terrorismo oportunista no sentido de ser orientado para um violência cujo efeito aterrorizador é condicionado não tanto pela continuidade e totalidade quanto pela intensidade e ocasionalidade (vide algum ato terrorista veiculado pelas plataformas de mídia, independe da justeza da nomeação desses atos); o totalitário, além daquelas duas características das quais o oportunista carece, e como consequência necessária delas: ele é ou visa ser organizado institucionalmente na forma de Estado (vide Estado Islâmico).
De fato, parece que os critérios citados não são efetivos contra as notícias falsas. Por um lado, porque tais critérios foram propostos por Ricœur num contexto em que o objeto de crítica era o Estado Soviético; então, para Ricœur – e para qualquer leitor/a que concorda com ele e vê condições de “comparar” o estado de coisas soviético de 1956 com o atual e extrair daí algum significado – faz(ia) sentido propor alguma “liberalização” do Estado, naquilo que o termo tem de universal e não meramente burguês, na concepção de Ricœur. Por outro lado, e talvez mais profundamente, tanto em Ricœur quanto em Weil, na minha opinião, o fenômeno das notícias falsas, tal como se configura hoje (isso é algo a ser discutido), seria visto como um paradoxo próprio das democracias ocidentais (Cf., p ex, A democracia em um mundo de tensões e Limites da Democracia de Weil; o próprio O Paradoxo Político de Ricœur etc): uma violência passível de ser produzida pelo próprio e no próprio espaço democrático. Nesse sentido, se o que eu disse estiver correto, o problema aí não é tanto de existência quanto de força, quer dizer, como Weil observou nesses dois textos citados: opiniões, práticas etc violentas existem, existiram e vão existir (posto que a violência é um traço essencial do homem); o problema surge quando tais violências se organizam e tomam força na forma política (pensemos no nazifascismo e em todo o seu aparelho de propaganda – há mesmo de se buscar o antecedente das fake news). Nesse sentido, a questão seria: o que fazer para que as fake news não se tornem uma força política (i e, utilizada sistematicamente por organizações e atores políticos, com uma finalidade política, de alcance universal, aplicável ao todo da sociedade civil – note a diferença com relação à figura do “lunático” norte-americano estadounidense que conspira no porão de sua casa e tenta convencer as pessoas do seu círculo de amizade e da família de que a terra é plana etc)? Weil responderia, formalmente, que não se combate a Violência sem o uso da violência, mas, considerando o nível discursivo em que se coloca, ele não apresentaria nenhuma medida política para acabar com a violência das fake news aqui e agora, pois esse é um problema da política, filosoficamente compreensível, mas só passível de resolução pela política.
Além disso, pessoalmente, acho que vale a pena retomar as categorias marxistas e ver nas fake news um instrumento ideológico utilizado pelo conjunto do que chamamos classe dominante (Bolsonaro e Trump, p ex, são representantes da burguesia, penso que isso está claro) com vistas à sua manutenção num Estado aparelhado, ele mesmo utilizado para sua manutenção enquanto classe, não só economicamente, também politicamente dominante.
Enfim, talvez eu não tenha respondido concretamente, mas acho que dei algo para pensar. Me limitei a comentar alguma coisa sobre o fenômeno no âmbito da política, por ser onde a reflexão dos dois filósofos se situa na minha pesquisa, mas podríamos ver isso noutros âmbitos.
Abraço, camarada!
Por sorte, fiz uma cópia da resposta. Publiquei aqui, mas não foi. Por isso, estou repostando.
Boa noite, camarada! Terrorismo oportunista no sentido de ser orientado para um violência cujo efeito aterrorizador é condicionado não tanto pela continuidade e totalidade quanto pela intensidade e ocasionalidade (vide algum ato terrorista veiculado pelas plataformas de mídia, independe da justeza da nomeação desses atos); o totalitário, além daquelas duas características das quais o oportunista carece, e como consequência necessária delas: ele é ou visa ser organizado institucionalmente na forma de Estado (vide Estado Islâmico).
De fato, parece que os critérios citados não são efetivos contra as notícias falsas. Por um lado, porque tais critérios foram propostos por Ricœur num contexto em que o objeto de crítica era o Estado Soviético; então, para Ricœur – e para qualquer leitor/a que concorda com ele e vê condições de “comparar” o estado de coisas soviético de 1956 com o atual e extrair daí algum significado – faz(ia) sentido propor alguma “liberalização” do Estado, naquilo que o termo tem de universal e não meramente burguês, na concepção de Ricœur. Por outro lado, e talvez mais profundamente, tanto em Ricœur quanto em Weil, na minha opinião, o fenômeno das notícias falsas, tal como se configura hoje (isso é algo a ser discutido), seria visto como um paradoxo próprio das democracias ocidentais (Cf., p ex, A democracia em um mundo de tensões e Limites da Democracia de Weil; o próprio O Paradoxo Político de Ricœur etc): uma violência passível de ser produzida pelo próprio e no próprio espaço democrático. Nesse sentido, se o que eu disse estiver correto, o problema aí não é tanto de existência quanto de força, quer dizer, como Weil observou nesses dois textos citados: opiniões, práticas etc violentas existem, existiram e vão existir (posto que a violência é um traço essencial do homem); o problema surge quando tais violências se organizam e tomam força na forma política (pensemos no nazifascismo e em todo o seu aparelho de propaganda – há mesmo de se buscar o antecedente das fake news). Nesse sentido, a questão seria: o que fazer para que as fake news não se tornem uma força política (i e, utilizada sistematicamente por organizações e atores políticos, com uma finalidade política, de alcance universal, aplicável ao todo da sociedade civil – note a diferença com relação à figura do “lunático” norte-americano estadounidense que conspira no porão de sua casa e tenta convencer as pessoas do seu círculo de amizade e da família de que a terra é plana etc)? Weil responderia, formalmente, que não se combate a Violência sem o uso da violência, mas, considerando o nível discursivo em que se coloca, ele não apresentaria nenhuma medida política para acabar com a violência das fake news aqui e agora, pois esse é um problema da política, filosoficamente compreensível, mas só passível de resolução pela política.
Além disso, pessoalmente, acho que vale a pena retomar as categorias marxistas e ver nas fake news um instrumento ideológico utilizado pelo conjunto do que chamamos classe dominante (Bolsonaro e Trump, p ex, são representantes da burguesia, penso que isso está claro) com vistas à sua manutenção num Estado aparelhado, ele mesmo utilizado para sua manutenção enquanto classe, não só economicamente, também politicamente dominante.
Enfim, talvez eu não tenha respondido concretamente, mas acho que dei algo para pensar. Me limitei a comentar alguma coisa sobre o fenômeno no âmbito da política, por ser onde a reflexão dos dois filósofos se situa na minha pesquisa, mas podríamos ver isso noutros âmbitos.
Abraço, camarada!
Boa noite, camarada! Terrorismo oportunista no sentido de ser orientado para um violência cujo efeito aterrorizador é condicionado não tanto pela continuidade e totalidade quanto pela intensidade e ocasionalidade (vide algum ato terrorista veiculado pelas plataformas de mídia, independe da justeza da nomeação desses atos); o totalitário, além daquelas duas características das quais o oportunista carece, e como consequência necessária delas: ele é ou visa ser organizado institucionalmente na forma de Estado (vide Estado Islâmico).
De fato, parece que os critérios citados não são efetivos contra as notícias falsas. Por um lado, porque tais critérios foram propostos por Ricœur num contexto em que o objeto de crítica era o Estado Soviético; então, para Ricœur – e para qualquer leitor/a que concorda com ele e vê condições de “comparar” o estado de coisas soviético de 1956 com o atual e extrair daí algum significado – faz(ia) sentido propor alguma “liberalização” do Estado, naquilo que o termo tem de universal e não meramente burguês, na concepção de Ricœur. Por outro lado, e talvez mais profundamente, tanto em Ricœur quanto em Weil, na minha opinião, o fenômeno das notícias falsas, tal como se configura hoje (isso é algo a ser discutido), seria visto como um paradoxo próprio das democracias ocidentais (Cf., p ex, A democracia em um mundo de tensões e Limites da Democracia de Weil; o próprio O Paradoxo Político de Ricœur etc): uma violência passível de ser produzida pelo próprio e no próprio espaço democrático. Nesse sentido, se o que eu disse estiver correto, o problema aí não é tanto de existência quanto de força, quer dizer, como Weil observou nesses dois textos citados: opiniões, práticas etc violentas existem, existiram e vão existir (posto que a violência é um traço essencial do homem); o problema surge quando tais violências se organizam e tomam força na forma política (pensemos no nazifascismo e em todo o seu aparelho de propaganda – há mesmo de se buscar o antecedente das fake news). Nesse sentido, a questão seria: o que fazer para que as fake news não se tornem uma força política (i e, utilizada sistematicamente por organizações e atores políticos, com uma finalidade política, de alcance universal, aplicável ao todo da sociedade civil – note a diferença com relação à figura do “lunático” norte-americano estadounidense que conspira no porão de sua casa e tenta convencer as pessoas do seu círculo de amizade e da família de que a terra é plana etc)? Weil responderia, formalmente, que não se combate a Violência sem o uso da violência, mas, considerando o nível discursivo em que se coloca, ele não apresentaria nenhuma medida política para acabar com a violência das fake news aqui e agora, pois esse é um problema da política, filosoficamente compreensível, mas só passível de resolução pela política.
Além disso, pessoalmente, acho que vale a pena retomar as categorias marxistas e ver nas fake news um instrumento ideológico utilizado pelo conjunto do que chamamos classe dominante (Bolsonaro e Trump, p ex, são representantes da burguesia, penso que isso está claro) com vistas à sua manutenção num Estado aparelhado, ele mesmo utilizado para sua manutenção enquanto classe, não só economicamente, também politicamente dominante.
Enfim, talvez eu não tenha respondido concretamente, mas acho que dei algo para pensar. Me limitei a comentar alguma coisa sobre o fenômeno no âmbito da política, por ser onde a reflexão dos dois filósofos se situa na minha pesquisa, mas podríamos ver isso noutros âmbitos.
Abraço, camarada!
Parabéns, Umaitan, pela belíssima pesquisa realizada. Gostaria que o amigo fizesse um esclarecimento mais aprofundado sobre essas categorias da Lógica da filosofia de Éric Weil: Ação, Obra, Deus.
Boa noite, companheiro! Acredito que não era tanto meu objetivo oferecer um esclarecimento aprofundado das categorias. Talvez o que não fique claro no resumo é o porquê de serem tais e tais categorias. Mas acho que uma leitura do relatório e de outras leituras de referência, que posso passar, ajudem na compreensão – minha, inclusive, pois não esgotei a análise nem a compreensão.
Mas, brevemente, de um lado, o que explica a escolha da categoria Deus no caso dos terrorismos é o fato de que, “de todas as formas simbólicas tradicionais, a religião será aquela que formalmente mais se adequará a induzir a confusão entre o sagrado transcendente […] e o sagrado comunitário que subjaz aos processos históricos” (BERNARDO, 2016, p. 136). De outro lado, também explica o fato de aquele que Bernardo chama de ideólogo inteligente ter se “apercebido de que, apesar de todos os esforços da Ação, ou talvez, por causa da insuficiência e do caráter paradoxal de tais iniciativas, a ideia de um mito totalitário destinado a impor um regime de violência total, em nome de um deus guerreiro, ainda podia ter o seu cabimento” (BERNARDO, 2016, p. 136).
No caso da Ação, há um conjunto de relações que são explicitadas no relatório e que, acho, podem esclarecer o camarada. Se, ainda assim, tiver questionamentos, podemos ir conversando.
Abraços!
Oi Umaitan, parabéns pela sua pesquisa. Gostaria que você explicasse a diferença entre as duas formas de terrorismo (oportunista e totalitário) que você citou mas não desenvolveu. Em segundo lugar, minha questão é sobre as medidas de controle democrático do Estado para reduzir a violência no mundo político. Fico me perguntando em que medida os critérios citados (a-c, mas especialmente o b) seriam efetivos contra as fake news. Pois poderíamos dizer que adeptos da terra plana, anti-vacinas ou qualquer teoria da conspiração similar têm (i) acesso às fontes de informação, de conhecimento e de ciência, (ii) tais fontes são independentes das do Estado (ou seja, satisfaz os critérios de b), mas a opinião é errônea, falsa e/ou formada de maneira precária. Fico com a impressão de que sem tais critérios de verdade fica difícil retirar as fake news do cenário democrático e, portanto, ficamos à mercê da produção de violência no mundo político.
Boa noite, camarada! Terrorismo oportunista no sentido de ser orientado para um violência cujo efeito aterrorizador é condicionado não tanto pela continuidade e totalidade quanto pela intensidade e ocasionalidade (vide algum ato terrorista veiculado pelas plataformas de mídia, independe da justeza da nomeação desses atos); o totalitário, além daquelas duas características das quais o oportunista carece, e como consequência necessária delas: ele é ou visa ser organizado institucionalmente na forma de Estado (vide Estado Islâmico).
De fato, parece que os critérios citados não são efetivos contra as notícias falsas. Por um lado, porque tais critérios foram propostos por Ricœur num contexto em que o objeto de crítica era o Estado Soviético; então, para Ricœur – e para qualquer leitor/a que concorda com ele e vê condições de “comparar” o estado de coisas soviético de 1956 com o atual e extrair daí algum significado – faz(ia) sentido propor alguma “liberalização” do Estado, naquilo que o termo tem de universal e não meramente burguês, na concepção de Ricœur. Por outro lado, e talvez mais profundamente, tanto em Ricœur quanto em Weil, na minha opinião, o fenômeno das notícias falsas, tal como se configura hoje (isso é algo a ser discutido), seria visto como um paradoxo próprio das democracias ocidentais (Cf., p ex, A democracia em um mundo de tensões e Limites da Democracia de Weil; o próprio O Paradoxo Político de Ricœur etc): uma violência passível de ser produzida pelo próprio e no próprio espaço democrático. Nesse sentido, se o que eu disse estiver correto, o problema aí não é tanto de existência quanto de força, quer dizer, como Weil observou nesses dois textos citados: opiniões, práticas etc violentas existem, existiram e vão existir (posto que a violência é um traço essencial do homem); o problema surge quando tais violências se organizam e tomam força na forma política (pensemos no nazifascismo e em todo o seu aparelho de propaganda – há mesmo de se buscar o antecedente das fake news). Nesse sentido, a questão seria: o que fazer para que as fake news não se tornem uma força política (i e, utilizada sistematicamente por organizações e atores políticos, com uma finalidade política, de alcance universal, aplicável ao todo da sociedade civil – note a diferença com relação à figura do “lunático” norte-americano estadounidense que conspira no porão de sua casa e tenta convencer as pessoas do seu círculo de amizade e da família de que a terra é plana etc)? Weil responderia, formalmente, que não se combate a Violência sem o uso da violência, mas, considerando o nível discursivo em que se coloca, ele não apresentaria nenhuma medida política para acabar com a violência das fake news aqui e agora, pois esse é um problema da política, filosoficamente compreensível, mas só passível de resolução pela política.
Além disso, pessoalmente, acho que vale a pena retomar as categorias marxistas e ver nas fake news um instrumento ideológico utilizado pelo conjunto do que chamamos classe dominante (Bolsonaro e Trump, p ex, são representantes da burguesia, penso que isso está claro) com vistas à sua manutenção num Estado aparelhado, ele mesmo utilizado para sua manutenção enquanto classe, não só economicamente, também politicamente dominante.
Enfim, talvez eu não tenha respondido concretamente, mas acho que dei algo para pensar. Me limitei a comentar alguma coisa sobre o fenômeno no âmbito da política, por ser onde a reflexão dos dois filósofos se situa na minha pesquisa, mas podríamos ver isso noutros âmbitos.
Abraço, camarada!
Por sorte, fiz uma cópia da resposta. Publiquei aqui, mas não foi. Por isso, estou repostando.
Boa noite, camarada! Terrorismo oportunista no sentido de ser orientado para um violência cujo efeito aterrorizador é condicionado não tanto pela continuidade e totalidade quanto pela intensidade e ocasionalidade (vide algum ato terrorista veiculado pelas plataformas de mídia, independe da justeza da nomeação desses atos); o totalitário, além daquelas duas características das quais o oportunista carece, e como consequência necessária delas: ele é ou visa ser organizado institucionalmente na forma de Estado (vide Estado Islâmico).
De fato, parece que os critérios citados não são efetivos contra as notícias falsas. Por um lado, porque tais critérios foram propostos por Ricœur num contexto em que o objeto de crítica era o Estado Soviético; então, para Ricœur – e para qualquer leitor/a que concorda com ele e vê condições de “comparar” o estado de coisas soviético de 1956 com o atual e extrair daí algum significado – faz(ia) sentido propor alguma “liberalização” do Estado, naquilo que o termo tem de universal e não meramente burguês, na concepção de Ricœur. Por outro lado, e talvez mais profundamente, tanto em Ricœur quanto em Weil, na minha opinião, o fenômeno das notícias falsas, tal como se configura hoje (isso é algo a ser discutido), seria visto como um paradoxo próprio das democracias ocidentais (Cf., p ex, A democracia em um mundo de tensões e Limites da Democracia de Weil; o próprio O Paradoxo Político de Ricœur etc): uma violência passível de ser produzida pelo próprio e no próprio espaço democrático. Nesse sentido, se o que eu disse estiver correto, o problema aí não é tanto de existência quanto de força, quer dizer, como Weil observou nesses dois textos citados: opiniões, práticas etc violentas existem, existiram e vão existir (posto que a violência é um traço essencial do homem); o problema surge quando tais violências se organizam e tomam força na forma política (pensemos no nazifascismo e em todo o seu aparelho de propaganda – há mesmo de se buscar o antecedente das fake news). Nesse sentido, a questão seria: o que fazer para que as fake news não se tornem uma força política (i e, utilizada sistematicamente por organizações e atores políticos, com uma finalidade política, de alcance universal, aplicável ao todo da sociedade civil – note a diferença com relação à figura do “lunático” norte-americano estadounidense que conspira no porão de sua casa e tenta convencer as pessoas do seu círculo de amizade e da família de que a terra é plana etc)? Weil responderia, formalmente, que não se combate a Violência sem o uso da violência, mas, considerando o nível discursivo em que se coloca, ele não apresentaria nenhuma medida política para acabar com a violência das fake news aqui e agora, pois esse é um problema da política, filosoficamente compreensível, mas só passível de resolução pela política.
Além disso, pessoalmente, acho que vale a pena retomar as categorias marxistas e ver nas fake news um instrumento ideológico utilizado pelo conjunto do que chamamos classe dominante (Bolsonaro e Trump, p ex, são representantes da burguesia, penso que isso está claro) com vistas à sua manutenção num Estado aparelhado, ele mesmo utilizado para sua manutenção enquanto classe, não só economicamente, também politicamente dominante.
Enfim, talvez eu não tenha respondido concretamente, mas acho que dei algo para pensar. Me limitei a comentar alguma coisa sobre o fenômeno no âmbito da política, por ser onde a reflexão dos dois filósofos se situa na minha pesquisa, mas podríamos ver isso noutros âmbitos.
Abraço, camarada!
Obrigado pelas respostas meu caro. Abraço e siga com o excelente trabalho
Boa noite, camarada! Terrorismo oportunista no sentido de ser orientado para um violência cujo efeito aterrorizador é condicionado não tanto pela continuidade e totalidade quanto pela intensidade e ocasionalidade (vide algum ato terrorista veiculado pelas plataformas de mídia, independe da justeza da nomeação desses atos); o totalitário, além daquelas duas características das quais o oportunista carece, e como consequência necessária delas: ele é ou visa ser organizado institucionalmente na forma de Estado (vide Estado Islâmico).
De fato, parece que os critérios citados não são efetivos contra as notícias falsas. Por um lado, porque tais critérios foram propostos por Ricœur num contexto em que o objeto de crítica era o Estado Soviético; então, para Ricœur – e para qualquer leitor/a que concorda com ele e vê condições de “comparar” o estado de coisas soviético de 1956 com o atual e extrair daí algum significado – faz(ia) sentido propor alguma “liberalização” do Estado, naquilo que o termo tem de universal e não meramente burguês, na concepção de Ricœur. Por outro lado, e talvez mais profundamente, tanto em Ricœur quanto em Weil, na minha opinião, o fenômeno das notícias falsas, tal como se configura hoje (isso é algo a ser discutido), seria visto como um paradoxo próprio das democracias ocidentais (Cf., p ex, A democracia em um mundo de tensões e Limites da Democracia de Weil; o próprio O Paradoxo Político de Ricœur etc): uma violência passível de ser produzida pelo próprio e no próprio espaço democrático. Nesse sentido, se o que eu disse estiver correto, o problema aí não é tanto de existência quanto de força, quer dizer, como Weil observou nesses dois textos citados: opiniões, práticas etc violentas existem, existiram e vão existir (posto que a violência é um traço essencial do homem); o problema surge quando tais violências se organizam e tomam força na forma política (pensemos no nazifascismo e em todo o seu aparelho de propaganda – há mesmo de se buscar o antecedente das fake news). Nesse sentido, a questão seria: o que fazer para que as fake news não se tornem uma força política (i e, utilizada sistematicamente por organizações e atores políticos, com uma finalidade política, de alcance universal, aplicável ao todo da sociedade civil – note a diferença com relação à figura do “lunático” norte-americano estadounidense que conspira no porão de sua casa e tenta convencer as pessoas do seu círculo de amizade e da família de que a terra é plana etc)? Weil responderia, formalmente, que não se combate a Violência sem o uso da violência, mas, considerando o nível discursivo em que se coloca, ele não apresentaria nenhuma medida política para acabar com a violência das fake news aqui e agora, pois esse é um problema da política, filosoficamente compreensível, mas só passível de resolução pela política.
Além disso, pessoalmente, acho que vale a pena retomar as categorias marxistas e ver nas fake news um instrumento ideológico utilizado pelo conjunto do que chamamos classe dominante (Bolsonaro e Trump, p ex, são representantes da burguesia, penso que isso está claro) com vistas à sua manutenção num Estado aparelhado, ele mesmo utilizado para sua manutenção enquanto classe, não só economicamente, também politicamente dominante.
Enfim, talvez eu não tenha respondido concretamente, mas acho que dei algo para pensar. Me limitei a comentar alguma coisa sobre o fenômeno no âmbito da política, por ser onde a reflexão dos dois filósofos se situa na minha pesquisa, mas podríamos ver isso noutros âmbitos.
Abraço, camarada!
Boa tarde. Parabéns pela pesquisa.
Boa noite! Muito obrigado!